PESQUISA DESMISTIFICA IDÉIA DE QUE ELAS SÃO CULPADAS POR TRANSTORNOS ALIMENTARES DESENVOLVIDOS POR ADOLESCENTES, COMO ANOREXIA E BULIMIA; BAIXO PESO É CONSEQÜÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FÍSICA
Quem olha para as modelos magérrimas que povoam os desfiles de moda e editoriais de revistas logo imagina que elas sejam neuróticas em relação à balança, vivam de dieta e se matem de praticar exercícios. Mas um estudo da Unifesp põe por terra esse mito e revela que essas jovens simplesmente administram o corpo que tem: elas nasceram assim, e o baixo peso é conseqüência da constituição física que possuem.
"Não fico sem comer nada. Como frutas, verduras, legumes e proteínas. Só evito carboidrato e fritura", diz Fiorella Gelli (foto), modelo da Elite que distribui 51 quilos em 1,73 m de altura. A garota, de 15 anos, teve de perder dois quilos quando se tornou modelo profissional em agosto passado, mas nem por isso deixa de tomar sorvete e comer fast food de vez em quando.
Isso não quer dizer, no entanto, que as meninas que sonham em ser modelos mas estão acima do peso não podem tentar a carreira, ressalta Regina Célia Denadai Madeira, autora da pesquisa. "O importante é que a jovem procure meios saudáveis de emagrecer e tentar atingir o padrão exigido pelas agências, desde que esse padrão seja adequado para ela."
Segundo a pesquisadora, o trabalho buscava saber se as modelos podiam ser culpadas pelo fato de adolescentes desenvolverem anorexia ou bulimia. "Mas com os resultados nas mãos, verificamos que elas não têm culpa." AVALIAÇÃO
Para analisar as condições de saúde das modelos, Regina selecionou 203 meninas durante a fase semifinal de um concurso. Além disso, um grupo controle composto por 50 adolescentes que não exerciam a profissão também foram avaliadas. Todas elas tiveram peso e altura avaliados, além de serem submetidas a um exame que aponta a porcentagem de gordura corporal e de massa magra, que corresponde aos ossos e aos músculos do corpo.
A pesquisadora verificou que a grande maioria das modelos (88%) não estava sob risco de desnutrição. Isso porque, apesar de apresentarem um índice de massa corporal (IMC) - peso divido pela altura ao quadrado - baixo ou normal, elas tinham um percentual de gordura corporal normal.
Regina destaca que o IMC não deve ser utilizado isoladamente para avaliar o estado nutricional de jovens. "No caso de adolescentes, o mais adequado é associar o IMC a uma outra variável, como a gordura corporal", afirma a pesquisadora.
No estudo, levando-se em consideração apenas o IMC, cerca de 18% das modelos estavam desnutridas e quase 34% tinham um peso muito abaixo do normal. "Apesar disso, só 12% apresentaram valores baixos de gordura corporal, estando sob um real risco nutricional." A porcentagem de gordura corporal considerada normal é de 15% a 25%.
As adolescentes também responderam a um questionário com perguntas sobre prática de exercícios, ciclo menstrual e dietas.
DIETAS
Com base no questionário, Regina verificou que as modelos praticavam menos atividade física e realizavam mais dietas do que as meninas do grupo controle. No entanto, ambos os índices eram baixos. "Achávamos que elas viviam de dieta e na academia, mas isso não foi comprovado."
Os baixos índices demonstram que essas ações não interferem de forma significativa na composição corporal das modelos, segundo ela. Isto é, as características de peso, massa magra e percentual de gordura das modelos são de caráter constitucional.
As descobertas surpreenderam também o orientador da pesquisa, o pediatra e especialista em nutrição do adolescente Mauro Fisberg. "Acreditávamos que essa era uma população de risco, com possibilidade de transtornos. Existiam muitos relatos sem comprovação", afirma Fisberg, coordenador do Projeto Saúde Modelo, que atende, de graça, modelos de agências de São Paulo, oferecendo assistência médica e nutricional.
Regina acredita que,
Fonte: Eliza Muto - Jornal da UNIFESP Foto: Stela Murgel
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