Tony tem olhos verdes, cabelos castanhos, 1,80 m de altura, pesa 85 quilos e veste manequim 44. Até aí, tudo seria normal para descrevermos um modelo. A diferença é que ele é bem requisitado para trabalhar mesmo apresentando um pouco de barriga e sendo semi-calvo. Tony, como é conhecido pelos artistas plásticos, fala nessa entrevista como é a profissão de modelo vivo, que apresenta características bem diferentes da profissão de modelo que a maioria das pessoas conhece e é bem mais antiga do que esta.
AM: Como foi que você iniciou nessa atividade?
Tony: Foi por acaso. Há uns 10 anos eu trabalhava como auxiliar administrativo numa empresa e uma professora de artes me conhecia de lá. Ela dava aula para uns 6 alunos no ateliê da sua casa. Um dia seu modelo vivo faltou e ela sugeriu que eu o substituísse. Fiquei à vontade ao fazer esse trabalho e desse dia em diante nunca mais parei de exercer essa atividade.
AM: Existe algum preparo, alguma técnica para ser modelo vivo?
Tony: Eu fiz um curso de duas semanas com o professor de uma faculdade de artes. Ele explicou tudo sobre essa atividade e me treinou para ser um modelo vivo profissional. É preciso treino para fazer os movimentos requisitados, as expressões faciais e corporais, além de ter que suportar até 40 minutos numa pose sem fazer movimento algum. É necessário muita paciência. Como em geral o trabalho é feito sem roupa, nos dias de frio fica um pouco mais difícil e esse tempo pode cair para uns 20 minutos.
AM: Quem são seus clientes?
Tony: Escolas de arte e professores particulares que ministram aulas em seus ateliês. Já trabalhei em lugares como a Oficina Paulista de Arte, Santa Marcelina (curso de artes plásticas), Pinacoteca, ABRA e vários cursos particulares.
AM: Por que eles não desenham ou esculpem a partir de uma fotografia?
Tony: Durante o trabalho, o modelo vivo costuma mudar de posição várias vezes para que eles treinem vários ângulos. Além disso, eu posso mostrar um lado real, a expressão de um sentimento de acordo com o trabalho, com o momento. Uma foto é estática, não tem essa possibilidade.
AM: Quais são as curiosidades dessa profissão?
Tony: Enquanto o modelo comum precisa ser perfeito, ter um corpo magro, etc., os artistas plásticos gostam das imperfeições, ou seja, das diferenças porque isso surge como um desafio para eles. É muito mais fácil desenhar um corpo perfeito, magro, musculoso. Depois que engordei, passei a ser mais procurado como modelo vivo. Isso é um bom aprendizado para eles. A calvície também é um desafio. Fica mais fácil desenhar alguém com cabelos do que as formas anatômicas da cabeça.
AM: Você sempre posa sem roupa?
Tony: Quase sempre. Às vezes eu poso para turmas de menores de 18 anos. Neste caso, uso um short, uma bermuda.
AM: Você encara a nudez com naturalidade. Cite alguma vez em que você mesmo se sentiu mais exposto.
Tony: Encaro meu trabalho como arte e não vejo nada de errado em posar sem roupa. Quando tenho que andar pelo corredor de uma escola de arte eu ando nu enrolado com um lençol. Quando tem teste de contratação com vários professores, um de cada vez, tenho que esperar pronto para cada um me ver. Não dá para ficar colocando roupa. Mas certa vez tive que subir no pedestal do pátio de uma escola para que os professores me observassem. Os alunos que passavam por esse pátio podiam me ver totalmente nu, sem o lençol.
AM: O tipo de trabalho é sempre o mesmo ou pode variar?
Tony: Em geral eu poso para os artistas estudarem os traços da anatomia do homem. Os artistas precisam aprender a desenhar o corpo humano e aperfeiçoarem suas técnicas baseando-se num modelo vivo. Já posei para escultores e um deles fazia estátuas em posições mais sensuais. Algumas vezes tive que posar com uma modelo, mas não havia toque corporal. Apenas uma posição mais carregada de erotismo.
AM: Seu trabalho sempre foi utilizado para estudos ou já teve outro objetivo?
Tony: Eu já posei para escultores. Existem estátuas por aí que foram inspiradas em mim. Algumas são parecidas comigo. Outras estão distorcidas. Conforme o toque do artista, ele pode me deixar mais magro, mais gordo, usando a imaginação para fazer o que quiser a partir da minha imagem real.
AM: Como é a forma de pagamento de um modelo vivo?
Tony: Paga-se por hora de trabalho, que pode variar entre R$ 10,00 e R$ 80,00. Dependendo do trabalho, fica-se muitas horas. As escolas normalmente pagam mais do que os professores particulares.
AM: Essa é única atividade que você tem?
Tony: Não. Eu trabalho como assistente administrativo para uma empresa e faço sessões de reflexogia, uma técnica de massagem nos pés que reflete na saúde do corpo. Isso eu aprendi num curso que fiz há uns meses e gosto muito de praticar.
AM: Você já pensou em parar de ser modelo vivo por algum motivo?
Tony: Algumas pessoas conhecem menos esse trabalho e não o valorizam. Houve uma época em que havia muitos cursos de artes, a economia do Brasil estava melhor, havia muita contratação de modelo vivo. Hoje isso mudou. Além disso, a procura por modelo feminino é maior.
AM: Se há desvantagens, por que você continua nessa atividade?
Tony: É uma fonte de renda para mim e uma forma de conhecer gente, gerar outras oportunidades. Também é bom sentir-se admirado, ser visto, receber elogios. Eu gosto do que faço.
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Nome artístico: Tony Telefone para contratação: 11 3744-1730
* As imagens ao lado foram criadas a partir de fotos do modelo.
Fonte: Margareth Libardi
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