"Wittgenstein!" traz Jairo Arco e Flexa para o palco para comemorar 30 anos de carreira
Com direção de Roberto Rosa, "Wittgenstein!", a primeira peça do poeta, ensaísta e tradutor Augusto Contador Borges, leva à cena momentos fundamentais da vida e da obra do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein (1889-1951).
Uma das figuras mais importantes e controvertidas do pensamento ocidental no século XX, Wittgenstein revolucionou as noções da linguagem e da teoria do conhecimento como o "Tractatus Lógico Philosophicus", única obra sua publicada em vida.
Pensador e personalidade de natureza polêmica, Wittgenstein invariavelmente entrava em conflito com todos que contestavam suas idéias - e até mesmo com os que aparentemente estavam de acordo com elas. Como aconteceu, várias vezes, em relação ao filósofo e matemático inglês Bertrand Russell, seu professor e autor da introdução ao "Tractatus". O texto de Russell não agradou a Wittgenstein, que alegou não ter sido compreendido por seu ex-mestre. Nem por isso eles deixaram de ser amigos - uma amizade, contudo, freqüentemente interrompida por longos períodos de desentendimentos.
É esse personagem misterioso, polêmico e fascinante que preenche sozinho o palco na peça. O texto começa com uma palestra de Wittgenstein para uma platéia de professores de filosofia, na qual o protagonista ataca de maneira implacável o que considera os equívocos e confusões da linguagem, segundo ele os responsáveis pelas armadilhas de que os filósofos são vítimas.
Ao longo da palestra, de acordo com sua teoria de que "dar aula é raciocinar em voz alta", Wittgenstein vai trazendo à tona suas reflexões de natureza intelectual, bem como suas memórias e angústias pessoais.
Algumas delas: o suicídio de três de seus quatro irmãos e o fato de que o último deles, um pianista, perde o braço direito durante a guerra.
Aos poucos o espectador irá conhecer detalhes que ajudam a entender (embora nunca expliquem totalmente) o conturbado universo mental de Wittgenstein: herdeiro de uma das maiores fortunas da Europa, ele abre mão de todos os bens materiais, distribuindo-os entre artistas, para que "aquele dinheiro não contamine meu pensamento, minha filosofia".
Mais tarde, vivendo isolado dentro de um regime espartano numa cabana das florestas da Noruega, ele "procura viver com simplicidade para poder pensar com clareza". Seu objetivo é "ficar nu em meio às coisas para entender melhor a miséria".
De maneira ágil e emocionante, a peça alterna sua ação pelos mais diversos ambientes: uma sala de aula em Cambridge, o front de batalha da I Guerra Mundial, onde o protagonista foi voluntário, num hospital londrino no qual trabalhou como técnico de laboratório, a casa de Bertrand Russell, a mansão onde Wittgenstein viveu até a adolescência, sua cabana na Noruega, e principalmente seu próprio e conturbado mundo interior.
30 anos de Carreira de Jairo Arco e Flexa
No ano passado, depois de ter ficado mais de uma década longe do teatro, o ator, diretor e autor Jairo Arco e Flexa voltou aos palcos como Bassemov, protagonista de pequenos burgueses de Máximo Gorki, sob a direção de Roberto Rosa, no Teatro Fábrica São Paulo.
Agora, novamente dirigido por Rosa e mais uma vez no palco do Fábrica, Jairo, pela primeira vez em sua carreira, interpreta um espetáculo-sólo com o personagem título "Wittgenstein!", primeira peça do ensaísta e tradutor Augusto Contador Borges.
Com a peça Jairo comemora 30 anos de carreira.
O ator faz questão de explicar que nesses 30 anos está contando apenas os anos em que efetivamente atuou como intérprete e diretor.
Fica de lado, assim, o período em que Jairo se dedicou a outras atividades, como professor, crítico de arte, editor e diretor da assessoria de imprensa da TVA.
Jairo iniciou sua carreira como um dos fundadores do Teatro Oficina, ao lado de Renato Borghi, José Celso Martinez Correa e outros. A peça era "A Vida Impressa em Dólar", de Cliffod Odets.
Além do Teatro Oficina, o ator esteve ligado também a alguns dos mais importantes grupos do teatro brasileiro, como o Teatro Arena (onde atuou, entre outros sucessos em: "Tartufo", e "Arena Conta Tiradentes"), o Opinião (no qual interpretou, ao lado de Paulo Autran e Teresa Rachel, "Liberdade, Liberdade", um dos marcos da resistência à ditadura militar) e a Companhia de Fernanda Montenegro e Fernando Torres ("Volta ao Lar").
Numa carreira de mais de 30 peças, os trabalhos de Jairo como ator e diretor, lhe renderam entre outros prêmios: o de diretor revelação (por "Navalha na Carne" de Plínio marcos em 1967), melhor encenador ("homens de Papel", também de Plínio, 1968) e um prêmio especial da crítica pelo conjunto de interpretações, de 1972.
Além dos trabalhos já citados, Jairo destaca em sua carreira "O Caso Oppenhemer" de Heinar Kiphardt, "Hedda Gabler", de Ibsen, e "A Relação" de Jean Claude Carrière, peça de apenas dois atores na qual, além de ter sido o diretor, dividiu o palco com Lílian Lemmertz.
Em 1985 estreou como autor, com "Voz do Brasil", em que também dirigiu e atuou. Dois anos mais tarde, montou outro texto seu: a comédia "O País de Sir Ney", na qual, mais uma vez teve jornada tripla de trabalho: autor, diretor e ator.
Na TV esteve entre os personagens centrais das novelas "Ninho da Serpente", "Adolescentes" e "Filha do Silêncio", da Bandeirantes. "Venha Ver o Sol na Estrada" (de Leila Assumpção e dirigida por Antunes Filho), tendo protagonizado ainda inúmeros teleteatros, especialmente na TV Cultura, como "Inês de Castro", "Napoleão e Mme. Waleska", "A Casa da rua Turk" e "Chapetuba Futebol clube".
Embora esteja há 12 anos sem subir ao palco, Jairo não deixou de atuar: em 2001 teve o papel central do rádio teatro "Carandiru", de Jeff Young, da BBC de Londres, baseado no livro de Dráusio Varela. As gravações desse rádio teatro, feitas em inglês, foram feitas no presídio do Carandiru, na mesma época em que Hector Babenco rodava o longa-metragem homônimo.
Ficha Técnica:
Texto: Augusto Contador Borges
Direção: Roberto Rosa
Atuação: Jairo Arco e Flexa
Cenografia e Figurino: Chris Aizner
Criação Sonoplastia: Tunica Teixeira
Criação Iluminação: Décio Filho
Operação Luz e Som:Talita Avelino
Fotografia: Mauricio Shirakawa
Produção: Alexandre Terreri
Produção executiva: Majó Sesan
Assistente de Produção: Majó Sesan
Serviço:
"Wittgenstein!"
De 31 de março a 28 de maio
Sextas e Sábados às 21:30
Domingos às 20:30
Indicação: 16 anos
Duração: 1h 15'
Teatro Fábrica São Paulo
Sala 2- 60 lugares
Rua da Consolação 1623
Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e 10,00 (meia)
Estacionamento conveniado R$5,00 Informações: 3255-5922 e 3258-8140 www.fabricasaopaulo.com.br
Fonte: REdação
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